Recentemente, o termo Open Energy passou a fazer parte de algumas discussões no setor elétrico, mas ainda parece um conceito desconhecido para a maior parte do mercado. A nomenclatura que faz referência ao movimento Open Banking e a outras portabilidades setoriais ocorridas emerge como prática extremamente promissora para trazer inovação e novas oportunidades para o mercado de energia.
O que é Open Energy?
Segundo o Manifesto elaborado pela Way2 Technology, entende-se por Open Energy a prática que possibilita que um determinado conjunto de dados no contexto do setor elétrico seja acessado conforme os interesses de quem os detém.
Isto é, dar liberdade e poder para o consumidor acompanhar, auditar e compartilhar seus dados referente ao seu acesso e consumo de energia.
Onde pode ser aplicado o Open Energy?
Por meio da abertura dos dados, inúmeras soluções e inovações poderiam ser criadas. Por exemplo, a criação de produtos e serviços mais personalizados para cada perfil de cliente, descontos específicos por horários de consumo, ranqueamento de usuários para incentivo à eficiência energética e gamificação por consumo, pagamento ou eficiência, entre outras possibilidades que podem emergir a partir de um mercado mais aberto e conectado.
Na prática, a simples disponibilidade de um alguns dados pelas distribuidoras para empresas terceiras, tais como, comercializadoras de energia, facilitaria muito o processo de auditoria e faturamento de contas de quem produz a própria energia ou compartilhada com outras empresas e residências.
Como proteger os dados?
Proteção de dados é sempre uma questão a ser tratada com cuidado no momento em que mercados se abrem para o compartilhamento de informações. Mas a proteção com transparência não deve ser vista como uma barreira, mas sim uma aliada em todo o processo.
Para isso, a LGPD - Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (Lei 13.709/18) já regula todo o processo de coleta, armazenamento e intercâmbio de informações pessoais pelos setores privado e público, além de assegurar o direito à portabilidade dos dados.
Fora do Brasil, já tem Open Energy?
De acordo com o artigo da EPBR, o movimento open já é uma realidade em diversos países, tais como: EUA, Reino Unido, Portugal, Canadá, etc. Algumas dessas experiências têm mais de 14 anos e hoje servem de referência e inspiração para o modelo brasileiro que está em discussão no setor junto aos seus principais agentes e órgãos de regulação.
Abertura do mercado e Open Energy
Em setembro de 2022, o Ministério de Minas e Energia (MME) divulgou por meio da Portaria 690/2022 um cronograma que propõe o acesso ao mercado livre de energia elétrica para todos os consumidores brasileiros até dia 1 de janeiro de 2028. Ou seja, já existe um cronograma de abertura que se inicia em 2024 (isso mesmo, daqui a 6 meses), para que cerca de 106 mil novos clientes possam escolher de onde querem consumir energia.
O cronograma segue a seguinte ordem:
👉 Janeiro de 2024: todos os clientes de Alta tensão
👉 Janeiro de 2026: clientes de Baixa tensão com exceção dos residenciais e rurais
👉 Janeiro de 2028: todos os clientes de Baixa tensão
Com a abertura do mercado livre, haverá a possibilidade do consumidor negociar e contratar energia diretamente com o gerador, descentralizando os valores e a comercialização das distribuidoras. Por isso, torna-se ainda mais importante a abertura dos dados de energia, uma vez que haverá mais agentes atuando no setor elétrico e o compartilhamento dos dados poderá facilitar a comercialização de energia de forma mais justa e eficiente.
Os fornecedores de energia se beneficiariam do Open Energy pois com o acesso aos dados seria possível realizar cotações mais precisas e rápidas. Essa visibilidade possibilitaria também a construção de um ambiente mais competitivo e com mais liberdade para o consumidor de energia.
No entanto, a abertura do mercado não está atrelada à abertura de dados. Apesar dos bons indícios de modernização do mercado, esse movimento não inclui aportabilização dos dados. Contudo, não deixa de ser um importante passo para reforçar a necessidade de democratização, digitalização e modernização do setor elétrico.
Dentro desse contexto, o Open Energy se torna uma ferramenta valiosa para ajudar consumidores e fornecedores a tomar melhores decisões sobre o uso de energia. Além disso, incentiva a criação de novas tecnologias e modelos de negócio.
A abertura do mercado livre e o Open Energy são duas iniciativas importantes que têm o potencial de transformar o setor elétrico brasileiro.
Reflexões sobre o movimento open no setor de energia
Assim como ocorreu em outros mercados, parece necessário que o tema seja abraçado por algum orgão de maior poder e autonomia dentro do setor e que defenda seus benefícios e suas implicações. Isto porquê, a reunião de players do setor em conjunto com a comunidade pode não ser suficiente para que esta mudança aconteça.
Entretanto, acreditamos que é nosso papel apoiar e dar visibilidade a essas discussões junto a outros agentes do mercado, focando nos benefícios da inovação aberta, da digitalização e da portabilidade dos dados para os avanços tecnológicos do setor elétrico. Além de conscienteizar e deixar mais claro para os consumidores seus benefícios e ganhos diante de um mercado mais democrático e livre para que eles possam também serem catalisadores dessa mudança.
A Ligy, como parte da cadeia do setor elétrico, tem o propósito de fazer parte e impulsionar mudanças relevantes que podem impactar positivamente a sociedade, desenvolvendo produtos e serviços que melhorem e facilitem a vida das pessoas.
Oferecer energia mais livre, sustentável e mais barata faz parte do nosso negócio hoje, mas isso pode ser ainda melhor em um ambiente aberto e cheio de possibilidades a serem criadas. 💜
Fontes:
https://www.way2.com.br/open-energy/
https://epbr.com.br/open-energy-como-a-era-dos-dados-permite-a-modernizacao-do-setor/
https://exame.com/bussola/como-a-abertura-de-dados-vai-impulsionar-o-setor-eletrico-brasileiro/
